quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Parto


O relógio marcava uma da manhã, resolvi deitar-me um pouco (já imaginava que outra noite de insônia estava a caminho). A dor na zona lombar era imensa, muito maior e mais aguda do que a dor dos dias anteriores. As duas da manhã acordei do cochilo, tomei um paracetamol e fui fazer o xixi de cada hora, foi quando expulsei o tampão mucoso. Ah vá...não me diga que Giulia vai nascer um dia antes do pai dela voltar da Itália...(intuição femenina é foda...eu avisei, eu avisei...).
Acordei minha mãe e tentamos relaxar, nem sempre a expulsão do tampão é sinal de parto iminente...o problema foi que as contrações começaram em seguida. Pra falar a verdade eu demorei um bom tempo pra ter certeza de que eram contrações...
Depois de 4 horas em casa, sentindo contrações, chegou o momento de ir ao hospital. A mamãe aqui tava sicagando de medo mas vamulá né?
Me examinaram e tinha pouco mais que um centimetro de dilatação, fiquei em observação e começaram a monitorização fetal, a dilatação era pequena, porém as contrações vinham muito seguidinhas e fortes...sinal de parto (ai merda, e meu amorzinho em Roma, fdp...eu avisei, eu avisei)...
Gente, tava confiante, tava suportando bem a dor...até que um dos ginecologistas ao fazer-me uma nova exploração me disse..."Vas a tener un parto largo"...Ah vá, já levava umas 8 horas de trabalho de parto e o filhodamae me diz isso...cadê a confiança?? Hein? Meu mundo caiu, o medo começou, a dor piorou.
Eu não notava o intervalo em minhas contrações, era quase uma dor estável, sem descanso. Me lembro que uma enfermeira entrou e perguntou se eu queria a epidural....mas é clarooo!! Tá, mas avisa a anestesista que eu tenho uma tatuagem na parte de baixo das costas, por favor.
Olha, pesquisei antes, conversei com muita gente, pedi opinião de médicos e a resposta foi sempre a mesa: fica tranquila, sua tatoo permite a epidural, é bem vazada, tem espaço de sobra...Agora, pergunta se a anestesista teve culhão de dar a epidural no meio da tatto onde NÃO tem tinta??? É uma constelação...muito espaço em branco. A resposta foi a seguinte: Olha, tenho que dar a anestesia em um lugar onde tenha uma distância de 2 cm da tinta, vou aplicá-la 2 cm ACIMA da tatuagem, mas não sabemos como será o efeito, talvez chegue somente á altura dos rins.
A vaca aplicou a epidural a 4 cm (não sabe medir?) ACIMA da tatuagem. Deu merda, literalmente.
Meu período de expulsão durou mais de 4 horas, eu empurrava minha gente, empurrava com toda a força e dor do mundo. Não podia acreditar que ia ter um parto normal, largo, sem anestesia, sem o pai da Giu...sem forças. Dói, dói muito e não venham com papinho que depois esquece. To até agora (27 dias depois) sem poder sentar direito.
Achei que fosse morrer. Me disseram que a bebê estava alta. Giulia se torceu, encaixou mal e nao descia, nem sabiam se ia descer. Me levaram ao paritório, impediram a entrada da minha mãe e depois de várias tentativas arrancaram a Giulinha de dentro com ventosa, manobra obstétrica, episiotomia, desgarres e mais cortes lá embaixo.
Enquanto minha filha chorava sentida em meu peito, me davam os pontos sem anestesia (pq comigo meodeos??).
Fiz questão de escrever sobre o parto, queria desabafar, tirá-lo de mim, colocar pra fora a dor que senti e ainda sinto. Quero deixar claro que não sei quando esquecerei a dor, mas cada vez que olho pra Giu sinto que empurraria mais mil vezes pra tê-la comigo, sentir seu cheirinho e dar beijinhos em suas mãozinhas.
O medo do parto sempre existirá, qualquer grávida tem. O que aconteceu comigo quase nunca acontece, a maioria dos partos são tranquilos, com ou sem dor, mas tranquilos. Não quero que nenhuma gravidinha tenha medo de parir depois de ler esse texto. Ao contrário, quero que entendam que tudo passa, e que mesmo um parto complicadinho acaba e acaba bem. Acaba com seu bebê no seu colinho, pronto pra mamar.
Acaba com o orgulho de ter colocado sua bebê pra fora com toda sua força, com toda sua dor, acaba com a certeza de que ser mãe é doar-se desde o princípio. Acaba com a certeza de que daqui pra frente a protagonista é ela. A dor? A dor vira história de superação e chantagem emocional direcionada ao pai dela, rs!

PS: Mas a gente não esquece a dor. Ahhhh não esquece!